Pedagogia Da Inocencia Nos Sentidos Portuguese, 1 edition

Nas sociedades capitalistas ocidentais contemporâneas, os processos de socialização fragmentários e/ou fragmentados (especializados, xenófobos e etnocêntricos), com todas as suas mazelas, têm feito com que essas mesmas sociedades, no sentido macro, criem hierarquias, barreiras, muros e abismos sócio-interativos entre as diferentes culturas; entre os diferentes povos; e, no sentido micro, tem feito também com que os indivíduos de diferentes culturas afastem-se cada vez mais uns dos outros, criando-se também hierarquias, barreiras, muros e abismos entre eles, tornando-se frágeis as relações de afeto, respeito, tolerância, fraternidade e, conseqüentemente, também de confiança, como se estas tivessem se tornando ?líquidas?. Por esta via, nessas mesmas sociedades, em muitos casos, mesmo entre pessoas que, por laços tenros de afeto ou de amizades - supõe-se - deveria haver contatos físicos, como apertos de mão, abraços, demonstração de carinho, saudade e etc., tudo acaba por se resumir e/ou se traduzir em interações apáticas, desprovidas de laços concretos que demonstrem haver entre as mesmas qualquer relação de afetividade, como se houvessem, também, entre elas, hierarquias, barreiras, muros e abismos invisíveis. Esses muros, abismos, hierarquias e barreiras entre elas se corporificam e/ou se tornam visíveis quando, por exemplo, essas pessoas, devido a alguma circunstância cotidiana, se encontram e, elas, umas para as outras, sem nenhum contato físico, demonstração de afeto e/ou de carinho, simplesmente, de forma fria e apática, apenas dizem: 1- ?Estava com saudades?; 2- ?Um forte abraço?; 3- ?Bom te ver?; 4- ?Que alegria de encontrar?; 5- Passa lá em casa; 6- ?Vê se aparece?; 7- Você sumiu, hein! Na verdade, esses pequenos exemplos traduzem e nos fazem pensar sobre como é que, esses valores Individualistas e Meritocráticos do capital, presentes nessas sociedades, têm feito não somente com que as pessoas, ainda que de forma inconsciente, optem por trilharem caminhos individualistas e competitivos no mundo do trabalho, mas também no modo como elas estão caminhando para a construção de uma sociedade de solitários e de ególatras potenciais. Nesse sentido, pode-se dizer que o acesso à cultura, não somente a erudita, ou melhor, o acesso às culturas (ideológica e/ou mal compreendida como sendo o mesmo que o acessa a sabedoria e/ou a educação, transformando os ?diferentes? nos ?mesmos?, em iguais, por meio da ideologia contida nas instituições educativas), é o que tem sistematicamente, ao longo da era pós-moderna, jogado os homens numa espécie de ?egocentrismo infantil na fase adulta?. Ou seja, de ?etnocentrismo sistematizado,? dado que toda cultura é etnocêntrica, não dando aos seres socializados nessas sociedades, todavia, ao mesmo tempo, condições de saírem dele (desse etnocentrismo), na medida em que os valores que a regem (cultura) são impingidos nas psiques dos mesmos, sistematicamente, passando a fazer parte das suas próprias identidades, tornando-os, assim, incapazes de tolerar e respeitarem os diferentes e/ou às diferenças. Os Neo-evolucionistas, todavia, exaltando o caráter dito mágico e/ou magnífico da cultura (o de poder transformar os grandes primatas em ditos homens ?civilizados?), postulam que: ?Se o homem não recebesse cultura também não teria ?evoluído?, não teria conseguindo deixar de ser o animal irracional que também traz em si.? Ou seja, para muitos deles, especificamente para os que são de raízes liberais: ?A cultura é o que torna os homens seres superiores não somente em relação aos outros animais da fauna, mas, dada a hierarquização das culturas, também superiores em relação aos outros homens pertencentes estes a culturas ditas inferiores.? Em outras palavras, por causa da aquisição da cultura, os neo-evolucionistas postulam também que os homens, diferentemente dos animais inferiores, puderam se tornar ?animais completos?.